domingo, 18 de dezembro de 2011


Infância, Espiritualidade e Formação do Ser

            Toda a auto-ajuda raramente trata da infância, no máximo diz que traumas de infância implicam em problemas na vida adulta. Isto todos nós sabemos e a auto-ajuda é voltada ao público adulto, mas para pais, professores e todos que de alguma forma lidam com a infância a importância de entender a espiritualidade nessa fase é enorme para melhor educar e compreender o rumo tomado na própria vida partindo da infância.
            Um argumento perfeito para os que dizem que o pensamento nada cria é que se o pensamento criasse imediatamente tudo, todas as crianças voariam como o Super-Homem. É importante lembrar que estamos sob o jugo da matéria, a ilusão mais perfeita criada por Deus. A matéria é apenas uma forma de energia, se toda a matéria do Universo fosse condensada num único ponto, se as partículas perdessem a distância entre si e se as partículas que formam partículas maiores reduzissem essa distância a zero, teríamos toda a matéria condensada em um espaço menor que a ponta de uma agulha. A matéria é apenas um vácuo, um infinito de ondas vibrando em diferentes freqüências, mas acreditamos que ela existe e o que acreditamos é.
            Por quê formou-se então a crença que as crianças acreditam em tudo e que acreditariam que poderiam voar? Qualquer menino ou menina sabe que não pode voar porque já levou um tombo e viu milhares de coisas caírem. A mente infantil sendo a maior máquina de absorção de informações criada no Universo, precisa somente cair uma vez ou ver algo cair para incorporar em sua crença que corpos não saem voando sozinhos.
            As sensações ensinam de forma bem mais eficiente que as palavras. Pode-se dizer a uma criança que o fogo queima, ela aprenderá somente na primeira queimadura. O medo, o carinho, a dor, a fome, o abandono, o contentamento, a alegria e infinitas sensações que poderiam ser arroladas ensinam bem mais do que frases.Uma frase é bem compreendida depois que é sentida. O fogo queima só tem significado depois da queimadura.
            Você pode ou não acreditar na reencarnação, mas uma coisa é de sua completa concordância: toda a infância é um início. Se existe reencarnação o que eu tenho certeza é que ela não interessa ou me lembraria completamente dela. A criança nasce totalmente crua, é um caderno a ser escrito. A infância é à base de toda a criação humana. Um recém nascido é um mundo a ser criado e o criador no tempo que possuir de vida é aquele ser que não possui nenhuma experiência, o próprio recém-nascido. É claro que isso é proposital. Como uma coisa nova pode ser criada com referenciais anteriores. Se existe reencarnação, como posso abandonar sofrimento e crenças se lembrasse de parte ou de tudo?
            Todo bebê é bonitinho porque não tem experiência. Não se introduziu na mente frustrações, derrotas, medos. A maioria dos bebês sorri a qualquer pessoa porque não sofreram. São máquinas de amar. Amam a todos e a tudo. Uma frustração aparece no rosto de um adulto, aparece nos órgãos, forma doenças. Um adulto pela frustração desenvolve a idéia que amar causa sofrimento.
            Um bebê não sabe escrever a própria vida, o Universo faz por ele até que ele comece a fazer. Um pai bêbado batendo na mãe escreverá um capítulo nessa história, um cachorro raivoso atacando o berço outra. Que história você gostaria que tivessem escrito nesse seu início? Está primeira escrita nunca será sua, mas a primeira escrita de seu filho sim. Veja seu bebê como uma máquina de doar amor e também uma máquina de receber amor. Todo amor dado a seu filho é correspondido e toda a brutalidade endereçada a ele gera resultados horríveis. Pais têm a posição de força e a usam construindo o melhor, o médio ou o pior.
            Você não escreveu seus primeiros momentos e quem escreveu pode ter feito de maneira errada. É bom saber que você pode ignorar por completo essa primeira escrita sabendo apenas uma coisa: você sabe escrever sua própria vida. Seu argumento pode se atrelar à dificuldade de esquecer traumas da infância. Concordo que seja difícil, mas o que é melhor? Viver sob o medo, vulnerável a inúmeras coisas, refém de coisas que não existem mais ou dono do próprio nariz, responsável por seus atos e pensamentos?
            Seu chefe no emprego não é nem um pouco interessado se você era trancado num quarto de castigo por horas ou se apanhava de cinta ao menor erro. Seu chefe quer que você trabalhe bem. Será que o que aconteceu de ruim em sua infância realmente interessa a você mesmo? Se um trauma vai te diminuir a competitividade num mundo competitivo, por quê se atrelar a ele? Se alguém lhe disse que era burro, não está lendo e entendendo o que está escrito aqui?
            Você um dia foi uma máquina de doar amor e se perdeu esse dom, não significa que ele não possa voltar. Quem doa amor, recebe amor. Uma criança não doa amor elaboradamente, o faz de forma pura. Se sua doação não for interrompida pela brutalidade, se tornará um elaborado doador de amor. Na adolescência desenvolverá a sexualidade, a compaixão, a fé, a autoconfiança, formas elaboradíssimas de amor. Se uma roupa está rasgada, joga-se no lixo. Se um carro está muito velho, vende-se para o ferro-velho. Se um trauma te faz infeliz por quê não deixá-lo de lado e dar atenção a coisas positivas até que ele, desprezado, extinga completamente sua força e inserção em sua vida?
            As crianças criam castelos, príncipes, fadas, atos heróicos. Aqui mora algo que quase ninguém percebe: todo pensamento se manifesta e o pensamento infantil não é diferente. Uma das funções da infância é criar a grandiosidade do homem e da mulher no futuro. Você pode me perguntar: “Sou um adulto e não tenho um castelo, vivo num apartamento que mal dá para se mexer e que me custa mais de 50% de salário no aluguel, o que aconteceu?” A pergunta pode ser essa também: eu era uma princesa que vivia num castelo encantado e meu príncipe me enchia de mimos, estou velha, descasada e meu ex-marido nunca me deu mais de dois minutos de sexo contínuo, você não está dizendo uma magnífica besteira? Em algum momento se parou de acreditar, a frustração bloqueou os castelos, fez o príncipe virar sapo.
            No Brasil não existem castelos, mas existem mansões no Morumbi e na Barra da Tijuca e na maioria das cidades do país e do mundo. Existem mulheres que são tratadas como rainhas por seus cônjuges e maridos que são tratados como marajás por suas esposas. Quem mora nesses lugares e saiu da pobreza é porque acreditou no sonho de infância de que era um príncipe, o que você acredita nunca vai embora. O cônjuge que encontrou o par perfeito plantou a semente e provavelmente o fez na infância e não se iludiu pelas decepções. As decepções existem, mais se você se decepcionar mil vezes e ignorá-las todas, estará criando ainda o seu sonho e ele vem, necessariamente. Se você parou de acreditar, a semente ainda está lá e crer é o maior fertilizante do Universo. Se sua infância foi de novela mexicana, já trabalhava desde os cinco anos, passava fome, seu pai bebia, sua mãe se tornou louca, seus irmãos se perderam pelo mundo, a terra para o plantio da semente existe e é você mesmo. Basta plantar e adubar.
            Na infância sonhar, brincar, ser príncipe, general, médico, extraterrestre, milionário, fazendeiro, piloto de corridas, aviador, bombeiro e tudo que passa pela fantasia infantil é excessivamente sadio. Seu filho está criando hoje o milionário de amanhã. Se ele se decepciona na escola, ou com amigos, evite dizer que as coisas são assim mesmo, diga que decepções existem, mas elas nos preparam para a vitória. Tome por hábito elogiar seu filho naturalmente. Todos nós temos coisas elogiáveis, seu filho tem uma porção delas. Se ele fez errado, mostre que há uma maneira de fazer certo, e não fique imputando uma culpa eterna nele. Quantas vezes você já errou, como ele pode acertar se nunca errar?
            O mais sábio dos pais é aquele que entende que a vida de seu filho só pode ser escrita até certo momento e chega à hora de ensinar que ele possui os mais perfeitos instrumentos para criar a própria vida. Ensinar a nobreza, a independência, a liberdade, a sabedoria, a calma, a paz são os ensinamentos que jamais se perdem.
            Amar seu filho é deixar que ele escolha seu próprio caminho. É por isso que ele veio ao mundo. É deixar que ele bata e apanhe. Que ele fracasse e vença. Seu filho não é você. Depositar suas expectativas frustradas em seu filho é crime energético. Mostrar a ele que as possibilidades de sucesso são infinitas, que as quedas podem vir acompanhadas de vitórias é dar nas mãos dele o passaporte para a felicidade.

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